domingo, 24 de fevereiro de 2008

O Barão.

Uma das coisas que toda a gente já viu de certeza em passeio ou em viagem, e olha de lado de uma maneira cuidada, são os stands de carros usados. Estes antros de manhosice têm vindo a impôr-se em quase todas as estradas nacionais ou secundárias, apregoando 'óptimos preços' num inexplicável Aston Martin debaixo dum toldo, na curva do km 4 no caminho para Argoncilhe.
Outros procedimentos envolvem um letreiro a dizer 'Semi Novo' num Mercedes com 500 mil kms, ou um letreiro a dizer 'TDI' num Civic de 92.
É, de todo, incrível a maneira como em buracos autênticos se consegue encontrar no stock destes stands, carros de valor elevadíssimo. O que no entanto costuma ser inversamente proporcional à quantidade de dentes e de inteligência/cultura da pessoa que dirige o espaço.

Portanto, um pouco depois de Abação encontra-se o Stand Ricardo. Em teoria, Leonel, Pires e eu estaríamos à procura de um belo negócio, por isso nada como encostar e dar uma olhadela. Nem estavam volvidos 5 minutos quando Cunha nos estava a tentar impingir o seu Discovery (que não pertencia ao stock do stand mas que 'também se vendia'), com 190 mil kms por uns belos 7000€, alegando que 'o carro tinha muito espaço para tudo o que quisessemos fazer, e que aquele motor era o 3.0 e puxava de caralho'. Ricardo aparece logo a seguir, sempre jovial e alegre, de sorriso desdentado e envergando o fato de treino do seu clube de eleição, mandando o bitaite que todos os carros estavam em óptimo estado e que 'se não tivessem ali o que queríamos, que se mandava vir'. Depois de um dos empregados dizer que 'ia lá abaixo ao escritório', provavelmente para dar um ar mais profissional (embora não tenha conseguido visto que as fundações da 'empresa' eram constituídas por uma Traffic e uma roulotte), Cunha avisou-nos que estaria para chegar um Audi A3, novo modelo, (de 2000 segundo ele) que estaria impecável. Perguntei então, em relação a uma carrinha Mercedes, quantos kms tinha aquela 'station'. Ricardo olhou para mim como se eu tivesse falado em tailandês, emitindo um grunhido de incompreensão. Tive então que apontar para a carrinha e ele lá foi muito prestável dizer-me que ainda estava em fase de legalização, mas que tinha 143 mil kms e que estava 'impecável, como todos.'.

Foi o sinal para nos despedirmos e nos fazermos de novo ao caminho, virando à esquerda na Lapinha em direcção ao Stand Devesa.

O Stand Devesa se não é, deveria ser, um marco de excelência no que toca a stands de beira da estrada. O seu dono, chamado carinhosamente por nós de Barão (ou Capitão) é um Senhor com letra grande, de cabelo grisalho comprido puxado para trás, que veste uma calça branca de cetim e um belo blazer em azul marinho e botões dourados. Para completar o outfit, um boné de capitão que lhe confere um ar imperial. Barão já tem um ar cansado, fruto de todos aqueles anos em negociatas que lhe permitiram comprar o barco a remos que supostamente deve ter na marina de Vilamoura. Orgulha-se do seu Volvo 740 GLE Turbo Diesel como se de um Maserati se tratasse. 'Carro para uma vida !' - diz ele, entre sorrisos, enquanto nos tenta impingir um Opel Tigra importado de 98 com 'apenas' 14 mil kms.

Ao lado do stand, também é proprietário de uma mini sucata onde constam meia duzia de Unos, uma Espace, duas ou três Transits e mais uns quantos clássicos. Neste espaço passeiam livremente cães, porcos, algumas galinhas e um galo.

Barão fala caro. Enquanto nos mostra algumas das viaturas em stock, fixamos o olho num 205 CL Cabriolet bastante apetecível, não fosse o preço, e num Renault 5 TL Saga, com a particularidade de ter uma coisa que nunca tinha visto : um tecto panorâmico em lona.

Saímos de lá com algumas ideias.. este post há de ter a sua continuação !

Um abraço,

-A

2 comentários:

Anónimo disse...

Foi uma jornada bastante impagavel em busca de objectos de valor e requinte nas maos de plebeus adoraveis..Mas como Abilio frisou isto foi a primeira odisseia..
bem Haja

Artur "Bocadillo de Jamon" Pires disse...

Uma longa jornada que culminará com uma viatura épica.

Saúdinha e um bem haja para todos.